Nova incorporadora quer construir prédios com design contemporâneo
“O mercado imobiliário tem uma arquitetura conformista. Todo mundo faz o mesmo projeto. Falta personalidade na arquitetura”. As críticas, comuns nos corredores das faculdades de arquitetura, surpreendem quando saem da boca de Rafael Rossi, um empresário da construção civil e venda de imóveis.
Rossi trabalhou dez anos na construtora e incorporadora da família, a Rossi Residencial – que é mais conhecida pelo número massivo de lançamentos do que pela originalidade de seus projetos. Em outubro de 2011, decidiu abrir a Huma Desenvolvimento Imobiliário, uma incorporadora paulistana que pretende construir prédios de arquitetura contemporânea e que tenham uma relação amigável com o entorno. O primeiro edifício, projetado pelo UNA Arquitetos, começa a ser vendido este mês, será lançado em maio e deve ficar pronto em 30 meses.
“O empreendedor é parcialmente responsável pela construção da cidade”, afirma Rossi. “Então, que se criem empreendimentos que se integrem melhor com a cidade e abram espaço para as pessoas se encontrarem. Dá para fazer, não custa mais caro, mas tem que ser criativo”, completa.
O edifício projetado pelos premiados arquitetos do UNA não tem grade nem muro, só um portão de entrada que não se destaca da construção. A calçada ganhou um recuo onde será instalado um jardim público. Árvores plantadas em um jardim lateral protegerão do sol os pedestres. A disposição dos apartamentos também chama atenção: suas varandas estão viradas para os espaços entre os prédios ao redor. Assim, quem abre a janela não olha para a casa do vizinho, mas consegue ver a cidade. Já o hall de elevador terá aberturas “que permitem ver um passarinho”, segundo o arquiteto que coordena o projeto, Fernando Viégas. Os apartamentos medem entre 44 e 66 m². “O edifício responde às questões contemporâneas da vida urbana”, explica o profissional. “Serve a moradores que entendem que, tão importante quanto o prédio, é o local onde se vive na cidade”, adiciona.
Rafael espera vender as unidades a preços entre R$ 9 mil e R$ 11 mil o m², valor praticado na Chácara Klabin, o bairro de São Paulo onde o empreendimento se localiza. As vendas começam no final de abril; o prédio será lançado em maio. Enquanto está sem uso, o estande de vendas do edifício sedia o Huma Reflexões Urbanas, evento composto por uma série de palestras com arquitetos, jornalistas e profissionais do mercado imobiliário, que discutem a cidade e novos jeitos de morar. O urbanista Jaime Lerner, responsável por transformar Curitiba em uma das cidades mais sustentáveis do mundo, foi o primeiro palestrante.
Estratégia de mercado
Rafael conta que sempre se incomodou com a má relação que os prédios residenciais de São Paulo têm com o entorno. Mas criar prédios com design apurado foi a estratégia que o empreendedor encontrou para achar seu lugar no setor imobiliário – um mercado dominado por incorporadoras capazes de vender bilhões de reais em apartamentos a cada ano. “A vantagem competitiva de se ter um número de lançamentos menor é dedicar-se exaustivamente à concepção do produto”.
A proposta da Huma de investir em design lembra a de outra incorporadora paulistana, a idea!Zarvos. Criada pelo empresário Otávio Zarvos, a empresa encontrou seu espaço no mercado vendendo projetos criados por escritórios de arquitetura de renome – entre eles, Isay Weinfeld, Grupo SP e Andrade Morettin . Os prédios estão principalmente no bairro de classe média da Vila Madalena. A Huma, no entanto, está empreendendo em bairros com metragem mais cara. O próximo prédio, desenhado pelo espanhol Fermín Vazquez, do escritório b720, ocupará um terreno no Itaim Bibi.
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